Chegou a tão desejada sexta feira. E uma dica para curtir o
fim de semana veio da Gestora cultural @ Érika Rocha que indicou um documentário cheio de tradições!
“Terra deu, terra come” é um
documentário que retrata os costumes brasileiros herdados pelos descendentes de
escravos africanos, no interior de Minas Gerais. A trama do filme se desenrola
sob um olhar cinematográfico da vida de Pedro de Almeida, mestre da cultura
popular mineira, garimpeiro de 81 anos de idade, ao se registrar o momento que
esse conduz com a maestria de um mestre de cerimônias o velório, o cortejo
fúnebre e o enterro de João Batista, que morreu com 120 anos. Esse ritual
sucede-se no quilombo Quartel do Indaiá, distrito de Diamantina.
Ao captar imagens das 17 horas de
velório, choro, riso, farra, reza, silêncios e tristeza da despedida de João
Batista, a equipe de filmagem visava registrar um ritual elementar da cultura e
história africana herdada pelos brasileiros. Tendo em vista que durante o cortejo,
Pedro de Almeida entoava muita cantoria em versos dos vissungos, tradição
herdada da África, pois como descendente de escravos trabalhadores na extração
de diamantes, nas Minas Gerais do tempo do Brasil Império, Pedro é um dos
últimos conhecedores dos vissungos, cantigas em dialeto banguela cantadas durante
os rituais fúnebres da região, muito
comuns nos séculos 18 e 19.
Ao conduzir o funeral de João
Batista, Pedro desfiava histórias carregadas de poesia e significados
metafísicos, que nos põem em dúvida o tempo inteiro: Como se deu a vida de João
Batista? Quem era seu parceiro? Ele existia de fato? Estamos sozinhos nessa vida, ou rodeados de
parceiros invisíveis? Como Deus inventou a Morte?
Durante o filme, o cinegrafista
consegue explicitar jocosamente seu olhar sobre essas cenas, que muitas vezes
nos confundem quanto ao seu caráter, ao passo que a forma como são retratadas
nos levam a pensar se são realmente verídicas ou fictícias. O que é reforçado
pela atuação de Pedro e seus familiares frente à câmera, que nos provoca pela
sua dramaturgia espontânea. Assim, nesse filme, não se sabe o que é fato e o
que é representação, o que é verdade e o que é um conto, documentário ou
ficção, o que é cinema e o que é vida, o que é africano e o que é mineiro,
brasileiro.
“Terra deu, terra come” recebeu
várias premiações, valendo destacar Melhor Filme no BH ForumDoc 2010, e foi
escolhido pela UNESCO para ser exibido no evento extraoficial de Lançamento da Coleção
da História Geral da África, realizada pela UNESCO, em Belo Horizonte/MG,
2011.
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