Quem estréia nossa nova
página é a Jornalista @Rafaela Angeli. Ela é uma quase integrante do Projeto Antenados
(risos). Sempre que precisamos ela está disposta
a contribuir com suas ideias inventivas. Olha que bacana a dica.
O livro que indico é Antologia Poética, de Carlos Drummond
de Andrade.
O livro é uma reunião de poemas que vão desde sua estreia
até a década de 1960 feita pelo próprio escritor. A obra é uma exaltação à
beleza da palavra e é dividido em nove partes. São
as seguintes: um eu todo retorcido; uma província: esta; a família que me dei;
cantar de amigos; na praça de convites; amar-amaro; poesia contemplada; uma,
duas argolinhas; tentativa de exploração e de interpretação do estar-no-mundo.
Drummond é um dos precursores do Modernismo, no Brasil, e
ajudou a fundar “A Revista”, importante periódico que difundia o estilo pelo
país. No Modernismo, os versos eram mais livres e menos rígidos, e falam do
cotidiano, por isso, Itabira está sempre presente nos versos do poeta.
O escritor, que também é contista, cronista, tradutor e
escritor infantil, é considerado pela crítica o poeta da razão, pois podemos
notar em seus versos sua relação com o mundo, colocando-se, por vezes, maior,
menor ou igual ao mundo. Dialoga também com a individualidade e a coletividade,
uma relação angustiante e amarga, dada também pela época em que essas poesias
foram escritas: o mundo vivia períodos de guerra.
@Rafaela Angeli
É difícil, para mim, dizer qual seria a melhor poesia da
obra, que é muito grande e muito importante. Conheci a poesia de Drummond
através de ‘No meio do caminho’, que a maioria já leu ou ouviu falar. No
primeiro momento, achei estranhos aqueles versos e comecei a buscar
interpretações para ele. Foi então, a partir disso, que me interessei pelo
poeta. Me sinto orgulhosa por ele também ser mineiro, como nós.
Escolho ‘O Amor Bate na Aorta’ para que todos possam
conhecer e quem sabe também se encantar pela obra deste itabirano:
O Amor Bate na Aorta’
Cantiga de
amor sem eira
nem beira,
vira o mundo
de cabeça
para baixo,
suspende a
saia das mulheres,
tira os
óculos dos homens,
o amor, seja
como for,
é o amor.
Meu bem, não
chores,
hoje tem
filme de Carlito.
O amor bate
na porta
o amor bate
na aorta,
fui abrir e
me constipei.
Cardíaco e
melancólico,
o amor ronca
na horta
entre pés de
laranjeira
entre uvas
meio verdes
e desejos já
maduros.
Entre uvas
meio verdes,
meu amor,
não te atormentes.
Certos
ácidos adoçam
a boca
murcha dos velhos
e quando os
dentes não mordem
e quando os
braços não prendem
o amor faz
uma cócega
o amor
desenha uma curva
propõe uma
geometria.
Amor é bicho
instruído.
Olha: o amor
pulou o muro
o amor subiu
na árvore
em tempo de
se estrepar.
Pronto, o
amor se estrepou.
Daqui estou
vendo o sangue
que corre do
corpo andrógino.
Essa ferida,
meu bem,
às vezes não
sara nunca
às vezes
sara amanhã.
Daqui estou
vendo o amor
irritado,
desapontado,
mas também
vejo outras coisas:
vejo beijos
que se beijam
ouço mãos
que se conversam
e que viajam
sem mapa.
Vejo muitas
outras coisas
que não ouso
compreender.
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